domingo, 22 de novembro de 2009

Crônica - Lembranças da minha infância


Guardo com muitas saudades lembranças que fazem parte da minha bagagem existencial, principalmente lembranças inesquecíveis da minha infância. È uma viagem ao meu mundo interiorano, viagem que não deixo apagar da memória porque foram momentos vividos, saudosos e inesquecíveis, porque não lembrar abre uma lacuna em minha história pessoal, por isso recordo e pincelo em palavras aquilo que as pessoas e os acontecimentos deixaram em mim.

Primeiramente, os passeios que aconteciam nas férias na fazenda do meu avô. Foi lá que ouvi e aprendi algumas letras de músicas que ouvia do seu rádio de pilhas depois da voz do Brasil. Ali na roça as brincadeiras com meus irmãos eram de: esconde-esconde no capinzal, ou em cima dos pés de manga. medo? Só mesmo de cobras ou bichos do mato. Recordo que andávamos montados na égua branca – leeeeerda...que precisávamos dar muitas pancadas para ela andar. Tenho lembrança das muitas vezes que fui a beira das lajes e soltei os passarinhos preso na “arapuca" . Meu irmão fazia a armação para matá-los e fazer um frito. Éramos dotados da pureza da inocência.

E tomávamos banho de rio, todos aprendemos a nadar por força da necessidade. Naquele tempo não existiam chuveiros nem quente, nem frio. Em Côcos, a cidade que nasci, tomar banho nas águas do rio, era o lugar preferido nos fins de tarde, com meus irmãos, primas e Rosangela, nadávamos e nadávamos escondido e apanhávamos quando Mainha descobria.

Lá em nossa cidade tinha chafariz...onde as pessoas buscavam a água potável que vinha encanada do Rio Itaguari para uso doméstico.

Em nossa pequena cidade, na nossa infância, o passa tempo eram as brincadeiras de ciranda cirandinha, cabra cega, de esconde-esconde, béa, e na hora do recreio no pátio do Grupo Escolar Augusto de Azevedo – ou como nós o conhecíamos “Grupo Velho”, brincávamos de base - ou queimada -(que brincadeira saudosa) onde dois grupos brincavam de jogar a bola para tirar alguém da brincadeira.

Me lembro de Dudum, a mais alta da escola que a gente quase não conseguia derrubar...Neide Barros que nos enchia de graça com suas piadas calientes e muitas outras que deixo aqui de citar. E vêm aquelas lembranças que também nunca serão esquecidas: as brigas na escola, Soraia Viana! Era difícil de compreender porque tinha tanta implicância comigo. Brigávamos constantemente aos puxões de cabelos..... Recordo como eu tinha piolhos....meu Deus, parecia que meu sangue era mesmo adocicado, porque eles adoravam a minha cabeleireira...e sofria discriminação com esta praga (mas naquele tempo não sabíamos o que era discriminar ou mesmo buling) e eu...chorava de vergonha. Minha mãe usava todos os tipos de inseticidas possíveis: Bêhc, Formol, Neocid, parecia que eram alimentos, porque eles não arredavam dos meus cabelos...

E na Igreja Presbiteriana eu tinha frequência assídua nas Escolas Dominicais. No final de ano as cantatas e ensaios para os jograis de Natal eram vividos com muita alegria e emoção. Todos ensaiados pela professora Etelice Silva, a quem chamo pelo apelido de “Nininha”. Quantas lembranças inesquecíveis.
Os cânticos ainda ressoam vozes de infância. Às vezes viajo nesses pensamentos sem me dar conta que já se passaram tantos anos!.

O namoro escondido na praça dos jardins, e as idas escondidas à Carraspana boite (a boate de Zitim...) depois que saíamos do culto da Igreja na noite de domingo. A nossa juventude lotava a Praça de Dionisio Moura. Eu sonhava poder dançar...até hoje nunca aprendi a dançar...que pena! fui proibida..me bloqueei talvez a este ritmo lindo de embalar a vida...Mas naquele tempo era tudo demais proibido! Seu José Borges e D. Angelina (casal que mora até hoje na antiga praça principal da cidade) ficavam a nos espionar, acredito que pelas frestas da janela daquelas casas antigas, e contavam a nossos pais o que aprontávamos ou deixávamos de aprontar.

As lembranças guardadas no arquivo da memória existem em minha vida de todas as formas. Ainda tenho todas as cartas que recebia arquivadas num livro especial- Memórias Inesquecíveis - "Para que meus olhos lembrem quando minha mente esquecer" -
Meus amigos de infância/adolescência eram uma juventude dotados de muita inteligência:. Lembranças das amigas, Elieci, de Corrinha o nome dela é Maria do Socorro Bandeira, lindo nome, mas...os apelidos tinha coro forte entre nós. O domínio do Português – era Corrinha – o dicionário ela manejava com um conhecimento invejável. Matemática – Gláucia Moura, também de nome lindo, mas vejam só – chamávamos-a carinhosamente de “Nenzinha”.

Joaldi era escritor/poeta de peças de teatro, que apresentava nos Grêmios Literários que aconteciam no Ginásio Rui Barbosa, ou nosso GRB; as visitas dos jovens do projeto Rondon que nos contagiava de alegria e paixões encantadoras, eram jovens inteligentes que vinham cuidar de nossa saúde bucal entre outras; tinha o namorador das meninas mais bonitas da cidade ou namorava todas que por lá aparecia, bem como os amigos e colegas; porque existiam amigos e colegas; colegas eram aqueles que debochavam da gente...e amigos aqueles que nos defendiam e com quem gostávamos de passar todo o tempo.

      

E lá na nossa pequena cidade tinha artistas como: Isaias – que fazia carrancas com habilidade impresionável. Poeta como Dilma Lacerda, que no dia das mães recitava de cor poesia de 32 versos de Castro Alves, tinha jornalistas, que às escondidas publicaram o BIC- Boletim Informativo de Côcos. E nossos fins de semana ou feriados os passeios aconteciam à beira do Rio Itaguari (neste tempo só íamos lá no São Domingos ou em Valdeci) comíamos farofa de galinha caipira e piabas fritas que eram pescada às margens daquele imenso Rio.
Tudo vivido em minha infância foram momentos de completa alegria. Junto com meus irmãos, minhas primas e muitos amigos vivemos momentos de artistas com picadeiro de circo no quintal da casa de Tião Preto. Ivete era a rainha, menina linda, pernas perfeitas e Lola, minha irmã, que dançavam e rebolavam ao som das musicas de época. Fazíamos trapézios e nunca caímos para ir ao hospital, porque também não tinha. Muitas coisas tomaram novos rumos em minha vida, mas não perdi o gosto por guardar tudo aquilo que vivi.....



O rumo à capital – Brasília – aos 15 anos, não foi algo almejado, gostava mesmo da minha vida interiorana, talvez se lá tivesse ficado seria hoje uma Professora. Mas segui em busca de meus estudos. 

A viagem em uma Rural-   de carroceria, o motorista se chamava Benedito, conhecia bem estas estradas. Um veículo desconfortável atrás os bancos eram de madeira, eu viajei na cabine  sentia muito enjôo para andar de carro, mas as pessoas que viajavam atrás sofriam naqueles bancos duros. O almoço era "frito" de galinha caipira, com certeza o meu era o mais gostoso, e na estrada nao comíamos bolachas,  mas biscoitos feitos ao forno de barro.  Assim segui rumo a Brasilia, no Distrito Federal. Não existia linha de onibus naquela época

Recordo que a estrada era deserta, passava pelos gerais, muitos buritizais, tinha uma ponte que dava medo, mas a agua era cristalina, verde no fundo, o lugar se chamava "...." era ali que parava para almoçar. Ja tinha o ponto certo para esquentar a comida, frito de frango...feito farofa.
A nossa cidade de Cocos não tinha sequer o segundo grau. Minha mãe sempre teve sonhos de estudos para os filhos. E eu engatei nessa partida. Muitas lágrimas, viagem sofrida – no pau-de arara- como muitos na minha época, na minha idade seguiram rumo afora. Estudo difícil, devido à falta de condições. Concluir o segundo grau já era parte do sonho realizado. Afinal eram poucas as faculdades e de custo muito alto, e a Universidade só existia para os filhos de Deputados, Ministros.
Hoje, já com meus 45 anos, muitos cabelos prateados vejo que meus sonhos não morreram... ainda tem muitos para realizar como fazer a tão sonhada faculdade de Direito.

Cada passo da minha vida, ainda é uma página a ser virada, os anseios estão por cada nova conquista realizada. Sou Servidora Pública, exerço minha profissão na área de advocacia, ajudo da melhor maneira possível pessoas carentes transformar seus direitos em realidade.

Mas, nenhum vestígio foi apagado da minha memória – o primeiro amor... que nao se desfaz em detalhes... , descobrindo cada segredo desse caminho perdido...Decepciono...não arredio, a profissão de fé na Igreja Presbiteriana, os cultos que íamos a pé na Várzea só para voltar de mãos dadas com o namorado, os passeios com a mocidade, os namoros nas férias de verão, a exposição agropecuária, as vaquejadas.
Sou o espelho da minha própria existência. 
Lembranças...muitas lembranças...Amarguras...saudades...decepções.


Os anos passam, as rugas aparecem e aprendemos a nos lidar com todas  elas.

São expressões na linha do tempo das alegrias e tristezas vividas, que fazem parte do meu eu, DA MINHA VIDA...LEMBRANÇAS DA MINHA INFÂNCIA.